sexta-feira, 27 de julho de 2007

Um Minuto de Silêncio



É incrível a força de um evento esportivo, como o Pan, ele desperta nosso patriotismo, unindo a nação. A vontade de ver o Brasil sobressaindo-se perante aos países desenvolvidos supera a divisão de classes. Patrões e empregados vêem-se juntos torcendo pelo mesmo objetivo: a medalha de ouro. Na hora em que um brasileiro sobe no pódio a palavra inadiável é subtraída do vocaburlario, todos param com o intuito de homenagear os heróis que mesmo diante de situações precárias, conseguiram superar seus limites e honrar um país que não os honra. Nesse momento o atleta deslumbrado com tantos agradecimentos e aplausos beija a bandeira, ajoelha-se e agradece: aos pais, a deus, a si próprio. Porém o agradecimento ao Estado é omitido, pois o Brasil desampara seus atletas no momento em que eles mais precisam: na sua formação.Um país que desde sua origem foi rico em matéria prima permanece sendo explorado, dessa vez a exportação não é de madeira, ouro, ou café, mas de seres-humanos, de talentos. As meninas mais uma vez mostraram sua força nos gramados, se consagrando Bi-campeãs pan-americanas, elas venceram seleções tradicionais no futebol como Canadá e as poderosas americanas. Contudo, nossas atletas são obrigadas a mudar de país para exercer sua profissão. Essa situação é vergonhosa, porém é previsível. Em um país onde a educação é privilegio de poucos, e os profissionais que formam o futuro da nação são humilhados com um salários irrisório, o esporte ser tratado com tamanho desleixo a ponto de obrigar atletas a treinar em terra batida, se torna algo totalmente normal. Nós nos encantamos com a bravura do homem que superou seus limites e obteve sucesso, nos esquecemos porém, dos outros tantos, que almejam um futuro melhor, e tem seus sonhos cruelmente mortos, por um governo que não lhes proporciona uma estrutura adequada para que ele tenha condições de competir. Não é porque certas situações fazem parte do nosso cotidiano que nós temos q aceitá-las. -Não, para mim não é normal, alguém ter que sair do país para conseguir jogar futebol. -Não é normal crianças pedirem esmolas nas ruas. -Não é normal a educação a nível superior ser um privilegio de poucos, e se nosso quadro não é normal, temos que fazer algo para mudar. O conformismo é um dos principais males da humanidade. Mas se para vocês que ganham um salários mínimo, pouco mais, pouco menos, nosso momento é de comemoração, eu lhes convido a parar tudo, a fazer um blecaute e se emocionar ao subir no pódio, continuem cantando o hino, coloquem a mão no coração e gritem bem alto. -Eu tenho orgulho de ser brasileiro. Mas se você, assim como eu não concorda com as atrocidades que estão ocorrendo no país. Eu lhe convido também a parar, mas não para comemorar a vitória, e sim, para fazer um minuto de silêncio em respeito a morte de milhares de sonhos dos meninos e meninas que foram cruelmente assassinados pelo seu próprio Estado ao lhe negar a oportunidade de tentar ser alguém.

Nenhum comentário: